Substâncias da maconha podem virar medicamento contra o estresse pós-traumático

01/07/2016 18:46

Agência Brasil/DivulgaçãoTraumas emocionais violentos como, por exemplo, sofrer um assalto, acidentes graves ou morte de pessoas muito próximas, pode causar um problema psiquiátrico chamado de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Pessoas com esse tipo de problema reagem de forma exagerada a situações de medo ou ansiedade comuns, exibindo os mesmos sentimentos de tristeza, pavor, dor ou pânico que sentiu quando experimentou aquela violência ou tragédia original.

A farmacologista Cristina Stern, atualmente na Universidade Federal do Paraná, estudou o efeito dos canabinoides (princípio ativo da maconha) em um modelo em ratos que tenta imitar o estresse pós-traumático dos humanos. A pesquisa foi supervisionada pelos professores Leandro Bertoglio e Reinaldo Takahashi, do Departamento de Farmacologia da Universidade Federal de Santa Catarina, que também contou com pesquisadores da USP de Ribeirão Preto (SP).

Choques e medos

Nesse estudo os ratos são colocados em uma caixa onde levam três pequenos choques elétricos nas patas e, depois disso, voltam para suas gaiolas de moradia. No dia seguinte, são recolocados na caixa de testes novamente, porém agora sem receber os choques. A ideia é que os ratos se lembrem que foi naquele lugar que eles levaram o susto dos choques nas pata e, por isso, exibem um comportamento de medo característico, o congelamento. Essa imobilidade é comparada ao estresse pós-traumático. Se nos dias seguintes os ratos forem colocados novamente nessa caixa, eles voltam a apresentar o mesmo congelamento nos minutos iniciais, embora por cada vez menos tempo. Cristina Stern tratou os ratos com pequenas doses dos canabinoides THC e canabidiol, depois desse primeiro teste e, para sua surpresa, os animais tratados ficaram muito menos tempo em congelamento.

De boas com as memórias

O TEPT acontece principalmente pela formação de uma memória traumática, com consequências ruins para a saúde física e mental, convívio com a família e em sociedade.

— Hoje não existe nenhuma terapia farmacológica adequada. O que existe, apenas reduz os sintomas, porém sem afetar a memória — explica Cristina Stern. Por isso esse estudo é tão importante. Pode ser que substâncias extraídas da maconha venham a se tornar bons medicamentos para tratar esse problema psiquiátrico.

Se, por meio do uso de medicamentos, a memória é atenuada, na próxima vez em que for lembrada ela será, provavelmente, mais fraca. Isso pode significar que os pacientes com TEPT não sejam mais afetados de forma tão grave por aquela lembrança traumática. Esse estudo foi publicado na revista científica European Neuropsychopharmacology.

Carlos Rogério Tonussi
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