Modelo animal permite busca imediata para novos medicamentos contra o Zika

31/03/2016 10:30

aedesOs esforços para combater o rápido espalhamento do vírus Zika teve um novo impulso essa semana, assim que pesquisadores da Universidade do Texas, EUA, anunciaram o primeiro modelo em camundongos para infecção por Zika. Muitas instituições de pesquisa e companhias têm vacinas e drogas quase prontas para testes, mas, até agora, um modelo animal – uma etapa fundamental antes de se testar em humanos – não estava disponível. É possível testar a eficácia de drogas em culturas de células, mas esses testes dizem muito pouco sobre o que irá acontecer em um camundongo ou humano infectado. Esse modelo animal está disponível para uso imediato para o testes de antivirais. A pesquisa foi publicada no Jornal de Higiene e Medicina Tropical.
Confirmando temores

Camundongos normais não desenvolvem a doença após a infecção com o Zika. Somente camundongos geneticamente alterados para terem uma deficiência no sistema imunológico, desenvolveram uma doença detectável. Esses camundongos, quando jovens, são altamente suscetíveis ao Zika. Eles se tornam letárgicos, perdem peso e morrem dentro de seis dias após a infecção. Camundongos mais velhos também são infectados, mas nem sempre se tornam doentes, e mesmo assim sempre se recuperam. Pouco se sabe sobre como o vírus Zika se comporta quando entra no corpo. Porém, nesse estudo, os pesquisadores acharam partículas dos vírus na maioria dos órgãos. Sendo que as maiores quantidades de vírus foram encontradas no baço, no cérebro, e nos testículos. Esses achados reforçam a ideia de que o vírus pode ser transmitido sexualmente. E a descoberta do vírus no cérebro também pode ser importante, uma vez que o impacto mais devastador da atual epidemia de Zika no Brasil parece ser o nascimento de crianças com microcefalia.

Tirando o atraso

Os cientistas injetaram o vírus Zika isolado na Ásia em 2010 em vários tipos de camundongos geneticamente modificados. A epidemia atual na América do Sul pode ser rastreada até essa linhagem de vírus Zika asiático. Os camundongos descritos nesse estudo foram desenvolvidos para o teste de drogas e vacinas, mas não para o estudo da transmissão da doença humana. Entender essa transmissão provavelmente irá requerer modelos em macacos. A maioria das pesquisas sobre o Zika foram publicadas entre as décadas de 1950 e 1960. E até a atenção da mídia ter surgido recentemente, havia pouco interesse ou financiamento de pesquisa disponível para o estudo desse vírus. Assim, há um conhecimento limitado sobre o tamanho e os mecanismos de transmissão envolvidos na atual epidemia nas Américas. E menos ainda sobre como o vírus está circulando na Ásia. A dificuldade em rastrear o Zika reside no fato de que muitas pessoas que se tornam infectadas não mostram sintoma algum, e aqueles que desenvolvem a doença apresentam sinais e sintomas comuns à maioria das infecções virais, tais como a dengue e a chikungunya. Além disso, os testes sorológicos atuais muitas vezes não conseguem distinguir entre as infecções relacionadas às demais flaviviroses, nas regiões endêmicas para dengue. Financiamentos contínuos, e de longo-prazo, são necessários para estarmos melhor preparados para esses tipos de epidemias

Carlos Rogério Tonussi

Tags: AnimaisDengueImuneZika