Álcool deixa sua marca no DNA dos jovens

20/01/2014 07:54

DNA e bebedeira não combinam

Um estudo iniciado no México com a colaboração de estudantes universitários analisaram o efeito do consumo de álcool em finais de semana sobre os lipídeos que compõem a membrana celular e seu material genético, i.e. DNA. Até agora, os danos ao empacotamento do material nuclear nos estágios iniciais do abuso de alcool nunca tinham sido documentados, talvez por causa de que a maioria dos estudos terem sido feitos em estágios mais tardios, com pessoas que haviam consumido álcool de modo abusivo por muitos anos. Os resultados foram publicados no jornal científico Alcohol.

O consumo danoso de bebidas alcoólicas é um problema global e constitui um problema significante de saúde, social e econômico. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, o álcool é responsável por 2,5 milhões de mortes ao ano no mundo todo e os jovens entre 19 e 25 anos contribuem para 320 mil destas; ele causa um mal que vai além da saúde mental e física do bebedor. Os efeitos do abuso de álcool foram basicamente estudados em pessoas que consumiram a droga por um período muito longo e que, por isso, mostram sintomas que vão dos danos ao fígado à vários tipos de câncer, depressão e desordens do sistema nervoso. É por isso que esse estudo é pioneiro, porque ele lidou com os efeitos do álcool em pessoas jovens e saudáveis.

Trabalho de classe

A ideia de estudar os efeitos oxidativos do consumo alcoólico de final de semana veio quando a pesquisadora Adela Rendón estava lecionando bioquímica clínica no Instituto Politécnico Nacional do México. Muito dos estudantes que vinham para sua aula nas manhãs de segunda-feira, mostravam falta de atenção e mal estar geral devido a terem consumido álcool durante o final de semana. A pesquisadora sugeriu que eles deveriam estudar os efeitos em seus corpos desse consumo de final de semana, que eles julgavam inofensivo. Os estudantes se envolveram no projeto, do qual Jesús Velázquez (Universidade Autônoma de Nayarit, México) também participou, e após completarem os requerimentos administrativos necessários e arrolarem a colaboração de vários especialistas em entrevistas e análises, o objetivo do estudo foi especificado: dano oxidativo causado pelo consumo de bebidas alcoólicas por jovens.

Os estudantes foram divididos em dois grupos: o grupo controle constituído de estudantes que não bebem álcool e o grupo experimental, aqueles que beberam aos finais de semana. Para se ter certeza de que esses indivíduos eram saudáveis, sem nenhuma outra doença ou dependência que poderia alterar os resultados do estudo, eles foram submetidos a exames de sangue. A idade dos estudantes variou entre 18 e 23 anos e a média de consumo de álcool foi de 118 g, ou um litro e meio de cerveja, por exemplo.

A atividade da enzima álcool desidrogenase, responsável pelo metabolismo do etanol a acetaldeído, acetoacetato e acetona, foi medido. O dano oxidativo foi avaliado pelo teste TBARS (espécies reativas ao ácido barbitúrico), e reflete a peroxidação lipídica que afeta a membrana devido ao impacto não somente do etanol no sangue, mas também do acetaldeído produzido pela ação da enzima sobre o etanol. Assim, existem ao menos duas maneiras pelas quais os radicais livres são formados e podem danificar a integridade da membrana celular.

Dano comprovado

Embora os pesquisadores esperassem encontrar danos oxidativos, eles se surpreenderam com os resultados, como explica Adela Rendón. “Nós vimos que aqueles que beberam tiveram duas vezes mais danos oxidativos comparados com o grupo que não bebeu álcool,” e eles decidiram continuar com os testes para examinarem se o DNA também foi afetado: o teste cometa. Eles extraíram o núcleo das células linfocíticas do sangue e submeteram à eletroforese. “A coisa interessante é que se a cromatina não está apropriadamente compactada, se o DNA está danificado, ele deixa um halo na eletroforese,” que é chamado de “cauda de cometa”. E o que se pode verificar foi que a cromatina do grupo exposto ao álcool deixou um pequeno halo, maior do que o grupo controle. Para ser preciso, o resultado revelou que o danos foi da ordem de 8% na células do grupo controle, e de 44% no grupo exposto. Assim, o grupo dos bebedores teve 5,3 vezes mais dano celular.

Para sermos capazes de confirmar a existência de dano considerável ao DNA, a cauda de cometa deve exceder 20nm, e esse não foi o caso. “Felizmente”, a pesquisadora ressaltou, “mas o fato é que não deve ter tido danos consideráveis por que eles não tinha consumido alcool por muito tempo, eles não haviam sido expostos de modo crônico.” A forma como o álcool faz para alterar o DNA ainda não é conhecida. O próximo passo deve ser o seguinte: estudar o re-empacotamento da cromatina e o comportamento de mecanismos complexos como as histonas nesses indivíduos. “Quando nós falamos sobre o abuso de álcool em jovens, nós nos referimos ao jovens que bebem álcool sem estarem ainda dependentes. A dependência envolve um problema muito mais complexo, psicologicamente e socialmente falando. Esse é o abuso social do álcool,” disse a pesquisadora, “mas que causa danos a longo prazo e você tem que estar atento a isso.”

 

Carlos Rogério Tonussi
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