Pele de tilápia pode ser usadas como curativo para queimaduras

17/07/2017 20:43

A novidade está sendo testada para suprir uma grande deficiência no Brasil, que é a disponibilidade de pele humana, pele de porco ou pele artificial. Esses recursos são facilmente encontrados nos Estados Unidos, por exemplo, para o tratamento de queimaduras.
Os três bancos de pele em funcionamento no Brasil não atendem mais que um por cento das necessidades, afirma o Dr. Edmar Maciel, cirurgião plástico especializado no tratamento de queimaduras e coordenador dos testes clínicos com a pele de tilápia, em Fortaleza, Ceará.
O mais comum no Brasil é o uso de um curativo de gaze contendo uma pomada de sulfadiazina de prata. A prata é importante para evitar a infecção da queimadura, que devido a perda da barreira da pele, poderia permitir que as bactérias invadissem o corpo causando uma infecção generalizada. Porém, esse tipo de curativo não ajuda na limpeza da queimadura.
O curativo convencional precisa de ser trocado diariamente e as feridas lavadas. Isso causa muita dor no paciente.

[Rico em colágeno]
A pele da tilápia tem maior proporção de colágenos do tipo 1 e 3, que são muito importantes para o processo de cicatrização. Tendo até maior quantidade que na pele humana. Além disso, a resistência da pele deste peixe a tração é maior do que o da pele de gente, afirmam os médicos.
Em casos de queimaduras mais superficiais, a pele do peixe é deixada recobrindo o local até a que as feridas se curem naturalmente. Nas queimaduras de segundo grau profundas, o curativo de tilápia precisa ser trocado algumas vezes, mas ainda assim não tantas vezes como nos curativos com gaze. Com tudo isso, o paciente se recupera mais rápido e com menos necessidade de tomar analgésicos.
Pacientes que receberam essa técnica para o tratamento de queimaduras, afirmam que a sensação de melhora é ótima.

[Não pode ter germes]
Porém, para usar a pele da tilápia nesses casos não pode ser de qualquer jeito. As feridas de queimaduras são uma porta de entrada para vírus e bactérias que podem fazer um estrago enorme no organismo dos pacientes. Por isso, as peles são cuidadosamente preparadas e esterilizadas de uma maneira que não possa sobrar nenhum germe perigoso. Depois elas são embaladas em pacotes isolados do ar e guardadas em refrigeradores. Assim, elas podem durar até dois anos.
As tilápias podem ser uma fonte abundante e barata de pele e, por isso, ser uma boa solução para países pobres ou em desenvolvimento. Porém, todo o processo de esterilização e armazenamento não é barato ainda. Os pesquisadores estão fazendo um levantamento de custos para saber se realmente haverá vantagens econômicas para tratar queimaduras dessa forma. Se os testes clínicos continuarem animadores, alguma empresa poderá se interessar em processar essas peles em escala industrial e vendê-las à rede pública de saúde.

Carlos Rogério Tonussi

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