Esketamina, um antidepressivo instantâneo?

30/01/2017 18:52

Um novo estudo publicado na revista Biological Psychiatry relata que a esketamina, um componente do anestésico geral ketamina, mostra rápida e significativa melhoria nos sintomas depressivos em pacientes que não respondem às terapias atualmente disponíveis. O estudo teve como objetivo demonstrar a eficácia e segurança da esketamina na esperança de satisfazer uma necessidade clínica há muito aguardada de terapias que podem resolver a depressão resistente ao tratamento.

A ketamina, que é uma mistura de S-ketamina (esketamina) e R-ketamina (arketamina), já havia despertado o interesse dos pesquisadores há mais de 10 anos, quando um estudo demonstrou que doses baixas desse anestésico apresentavam efeitos antidepressivos rápidos, aliviando os sintomas em apenas 2 horas. Isto contrastava muito com os antidepressivos convencionais, que podem levar de 1 a 3 meses para produzir um efeito. Além disso, a ketamina pareceu funcionar em pacientes que não obtinham melhora nos sintomas com as drogas antidepressivas convencionais, cerca de um terço dos pacientes com transtorno depressivo maior. Embora a ketamina tenha entrado em campo como um novo antidepressivo promissor, nenhuma estratégia foi estabelecida para utilizá-la como um tratamento contínuo. Os estudos anteriores concentraram-se principalmente nos efeitos de uma única dose intravenosa, mas os doentes tendiam à recaída dentro de uma semana após a injeção. Além disso, agora se sabe que a esketamina isoladamente é cerca de duas vezes mais eficaz que a mistura racêmica ketamina.

EFEITO EM RÁPIDO E EM CASOS DIFÍCEIS!

Neste estudo, os pesquisadores da indústria farmacêutica Janssen, em San Diego, Califórnia, examinaram pela primeira vez a segurança e a eficácia da esketamina em pacientes com depressão resistente ao tratamento. Em um estudo duplo-cego – isto é, quando nem os pesquisadores nem os pacientes sabem o que está sendo aplicado – foram sorteados 30 pacientes para receber um placebo (droga falsa), ou uma dose mais baixa (0,2 mg / kg) ou maior (0,4 mg / kg) de esketamina. Os pacientes receberam duas doses intravenosa, que foi seguida por uma fase de acompanhamento de 2 semanas em que os pacientes poderiam receber até 4 doses adicionais. O início mais precoce do efeito antidepressivo foi registrado apenas duas horas após a primeira infusão. Dentro de 3 dias, mais de 60% dos doentes que receberam qualquer das doses de esketamina tiveram melhora nos sintomas depressivos. Nenhum dos pacientes do grupo placebo melhorou dos sintomas, mostrando que os efeitos observados com a esketamina não foram por acaso.

MELHOR EM DOSES BAIXAS

Os autores afirmam que pouco mais de 50% dos pacientes que usam os medicamentos convencionais apresentam o mesmo nível de melhora observada com a esketamina, e mesmo assim apenas depois de 6 a 12 semanas de tratamento. O estudo mostrou benefícios claros da droga sobre o placebo (droga falsa) e sugere que mesmo a menor das duas doses pode ser igualmente eficaz, mas com a vantagem de ser mais segura. Isso porque cerca de 17 % dos doentes que tomaram a dose mais elevada experimentaram também alterações transitórias da percepção imediatamente após a infusão, que cessaram em 4 horas. Embora o mecanismo dos efeitos antidepressivos da ketamina (e esketamine) ainda não seja claro, este estudo demonstra um benefício, pelo menos a curto prazo, deste medicamento para a depressão resistente ao tratamento. Testes clínicos estão em andamento pela Janssen para testar uma gama mais ampla de doses, seja para determinar a dosagem ideal, bem como avaliar outros possíveis efeitos colaterais e estabelecer a segurança da esketamina a longo prazo. O laboratório está desenvolvendo também uma formulação para aplicação nasal, muito mais prática.

Carlos Rogério Tonussi
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