Sinais para o Mal de Parkinson são achados em lugares inesperados
Pequenas alterações no DNA, chamadas polimorfismos de nucleotídeo único (PNU), foram encontradas não só em células do cérebro de pessoas com a Doença de Parkinson, onde eram esperadas, mas também em células do fígado, de gordura, células imunes e até em células-tronco. Estes achados podem um dia contribuir para o desenvolvimento de intervenções preventivas antes que os efeitos da doença tornem-se pronunciados, de acordo com um estudo publicado essa semana na revista Scientific Reports.
O que é um PNU?
Primeiro temos que saber que o DNA, ou código genético, é uma forma de guardar informações dentro de uma célula. Estruturalmente, o DNA é parecido com uma escada de bombeiro, só que muitíssimo mais comprida e retorcida, com os degraus sendo pares de moléculas chamadas nucleotídeos. Para ler esse código, dentro da célula existem enzimas que podem ¿andar¿ por essa escada. Vamos imaginar que esses degraus podem ser de 4 cores diferentes. Quando a enzima leitora está andando nessa escada, ela vai lendo a combinação de “cores”. Esse sistema de código é tão inteligente que ele admite que alguns degraus dessa escada possam ter certa cor nas células de uma pessoa, e outra cor na mesma posição do DNA de outra pessoa, e ainda assim ser lido da mesma forma! Os polimorfismos de nucleotídeo único ou PNUs, são isso. São variações em um destes nucleotídeos, ou degraus da escada, em um ponto específico no DNA. Poucas modificações nas cores, não causam problemas. Mas muitas modificações fazem com que o leitor leia errado, trazendo problemas para o funcionamento normal da célula.
O que é doença de Parkinson?
A doença de Parkinson é uma doença neurológica progressiva marcada por tremores, rigidez e perda dos movimentos voluntários. Entre sete e 10 milhões de pessoas do mundo têm a doença. Apenas 5 a 10 % dos casos de Parkinson são hereditários na família, não se sabendo com clareza o que está por trás dos outros 90% dos casos. Essa investigação de PNUs ligada ao Parkinson oferece uma oportunidade única para se entender esses 90%. A teoria que prevalece é que uma mistura de fatores genéticos e ambientais criam a bagunça que causa à doença. Levando ao acúmulo de proteínas anormais, resultantes da leitura errada do DNA, que se espalham através do cérebro, matando as células que produzem uma substância química chamada dopamina, que é vital para o controle dos movimentos voluntários.
Tecidos diferentes, mas um elo comum
O estudo de associação genômica ampla compara os DNAs de um grupo de indivíduos saudáveis com um grupo de teste, por exemplo, as pessoas com Parkinson, para ver onde há diferenças na sua composição genética. Os pesquisadores analisaram 21 locais de risco no genoma, chamados loci, em 77 tipos de células diferentes. Destes, a equipe encontrou 12 loci, em vários tipos de tecidos, que eram particularmente ricos – ou cheios de PNUs – indicando um aumento no risco. Curiosamente, apenas um locus foi identificado na substância negra, a parte do cérebro que sofre degeneração dos neurônios produtores de dopamina, causando a Doença de Parkinson. Outros loci foram encontrados no genoma de células do fígado, de gordura, células dos sistema imune e células de desenvolvimento. É a primeira vez que este tipo de análise de todo o genoma tem sido utilizado para investigar a doença de Parkinson.
Carlos Rogério Tonussi