Cientistas brasileiros pesquisam novos métodos para produzir soro contra picada de cobra

21/04/2016 11:13

Falta de soro é problema

Os soros antivenenos ainda são feitos utilizando um método que não mudou por mais de um século. Animais grandes, tipicamente cavalos, são injetados com pequenas quantidades de proteínas purificadas extraídas de veneno de cobra, e isso induz a produção de anticorpos. O plasma do animal contendo estes anticorpos é então dado às vítimas de acidentes ofídicos.

Mas este tratamento salva-vidas é limitado em aspectos importantes. Cada antiveneno é eficaz contra apenas uma única espécie ou, no máximo, um pequeno grupo. E esses soros devem ser mantidos sob refrigeração, o que é um grande problema em países tropicais pobres sem eletricidade.
Para piorar, o número de empresas farmacêuticas que fazem antivenenos está em declínio, porque esses soros não são muito rentáveis. Em 2010, por exemplo, a gigante farmacêutica Sanofi de Paris, parou a produção do soro antiveneno Fav-Afrique, que é projetado para tratar mordidas de serpentes africanas.

Técnica sem cobras

No mundo todo, a cada ano, cerca de 90.000 pessoas morrem depois de serem mordidas por cobra venenosa. O bioquímico brasileiro Paulo Lee Ho tem dedicado sua carreira no Instituto Butantan de São Paulo em busca de novas maneiras de criar um antiveneno para mordidas de cobra coral.

— Precisamos de uma nova maneira de atender a demanda de antiveneno do Ministério da Saúde — diz ele.

Os métodos convencionais dependem de veneno natural desta cobra, o que é difícil de conseguir, pois elas fornecem pequenas quantidades. Então, Ho e seus colegas, usando alta tecnologia, relataram no mês passado que conseguiram imunizar camundongos sem usar veneno. Eles fabricaram peças curtas de DNA que, quando injetadas em camundongos, estimularam a produção de anticorpos contra o veneno. Esse feito é encorajador, pois poderá ser uma forma de produzir antivenenos em larga escala e de alta qualidade. O estudo foi publicado na jornal científico Plos One.

Técnica sem cavalos

Uma outra equipe brasileira, liderada pela bióloga molecular Carla Fernandes, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Porto Velho, também está trabalhando para produzirem anticorpos sintéticos, porém usando uma técnica diferente. Esses pesquisadores colocaram os genes de lhamas que foram injetadas com veneno da cobra jararacussu, dentro de um tipo de vírus chamado bacteriófago. Esses vírus, então, são usados para infectar bactérias Escherichia coli e elas¿aprendem¿ a produzir os anticorpos parecidos com o que a lhama produz.

São os chamados ¿anticorpos recombinantes¿. Assim os cavalos seriam substituídos por essas pequeninas bactérias! Dando destes anticorpos para as vítimas de cobras, eliminaria-se a necessidade de usar plasma animal. Além disso, esses anticorpos poderiam reduzir a necrose dos tecidos no local da picada, em comparação com antivenenos tradicionais, porque os anticorpos sintéticos são menores e mais capazes de penetrar no tecido. Esse estudo também foi publicado no mês passado no jornal científico Plos One.

Carlos Rogério Tonussi

Tags: AnimaisanticorpocobraGeneSoroveneno