Parasita que se cria nos gatos pode afetar o julgamento de perigo das pessoas

14/04/2016 00:05

O Toxoplasma gondii é um protozoário microscópico que só se reproduz em felinos, como o gato doméstico, mas pode infectar muitas outras espécies de hospedeiros “finais”. Embora não contaminem o ambiente nesses hospedeiros, a menos que sejam comidos novamente por felinos. Esse micro-organismo pode causar a toxoplasmose e está presente em todo o mundo, sendo que as maiores taxas de infecção ocorrem nas regiões tropicais. As pessoas são infectadas através de gatos de estimação, alimentos contaminados ou outras fontes no ambiente. Porém, uma pessoa não transmite para outra.

A maioria das pessoas, 80-90%, não apresenta sintomas, por isso elas não sabem se estão infectadas. O maior risco de toxoplasmose é para o feto de mulheres grávidas. O parasita pode formar cistos no cérebro humano e outros órgãos vitais. Cegueira e danos cerebrais estão entre os problemas causados pela doença.

Parasita maquiavélico

Mas essa doença parece ter uma característica ainda mais sombria. Pessoas infectadas seriam mais propensas a se expor a riscos ou sofrer sérios problemas psicológicos. Esta proposta se baseia em estudos que mostraram que ratos infectados com T. gondii perdem o medo natural de gatos. Seus predadores naturais.

No entanto, isso parecia meio distante dos humanos até que um novo estudo mostrou que o mesmo tipo de mudança comportamental acontece também em chimpanzés, os macacos mais parecidos com os seres humanos. Chimpanzés infectados tinham muito menos medo de se aproximar do cheiro de urina de leopardo do que os chimpanzés não infectados – normalmente os chimpanzés têm muito medo desse cheiro, porque leopardos comem chimpanzés. Perdendo o medo, as presas infectadas têm maiores chances de serem comidas pelos felinos e, assim, o toxoplasma volta para o seu local de reprodução!

Na cova dos leopardos

Esta pesquisa foi realizada em 33 chimpanzés infectados e não infectados mantidos em cativeiro no Gabão. O estudo foi publicado na revista Current Biology e mostrou que esse micróbio faz chimpanzés ficaram mais atraídos pelo cheiro de leopardos, seus principais predadores na natureza. Porém, essa alteração no comportamento não foi observada quando os chimpanzés foram expostos ao cheiro de urina de leões ou tigres, nenhum dos quais é um predador natural de chimpanzés. Ou seja, a alteração parece afetar apenas o medo orientado a um perigo conhecido.

Os resultados do estudo apoiam esse controvertido ponto de vista de que o T. gondii também poderia influenciar o comportamento das pessoas infectadas, possivelmente quando ele é levado pela corrente sanguínea até o cérebro, onde ele pode formar cistos em uma região chamada amígdala, que é envolvida com o medo. Não confundir com a amígdala da garganta, que é outra coisa!

Vários estudos anteriores indicaram que o parasita da toxoplasmose pode também afetar a personalidade das pessoas, diminuindo seu tempo de reação ao perigo ou tornando-as mais propensas a correr riscos. Parece, inclusive, que esse parasita do gato esteja relacionado com distúrbios psicóticos em seres humanos, tais como automutilação e suicídio. E até mesmo doenças psiquiátricas graves como a esquizofrenia.

Espécies felinas tornam-se parasitadas por comer uma presa parasitada. Os roedores normalmente procuram fugir quando sentem o cheiro de gatos. Esse comportamento representa uma dificuldade natural para que o parasita que está no rato, chegue até o felino, onde irá se reproduzir. Portanto, ao induzir mudanças de comportamento em roedores infectados pelo T. gondii, tornando-os mais atraídos pelo cheiro dos gatos, o rato tem mais chances de ser comido e o parasita de chegar aonde quer, isto é, no gato.

Carlos Rogério Tonussi
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