Inflamação está ligada com maior tendência à depressão

26/11/2015 17:38

Cerca de um terço das pessoas com depressão têm altos níveis de marcadores de inflamação no sangue. Uma pesquisa recente indica que a inflamação intensa e persistente afeta o cérebro de uma forma parecida com os sintomas de depressão, tais como a anedonia, a incapacidade de sentir prazer.
Esses achados reforçam a noção de que essa forma de depressão, associada com inflamação intensa, é distinta, e está orientando os pesquisadores a planejarem tratamentos experimentais específicos para ela. A anedonia é um dos sintomas principais da depressão, e é também difícil de tratar.

Alguns pacientes tomando antidepressivos continuam a sofrer de anedonia. Os dados deste trabalho sugerem que bloqueando a inflamação, ou seus efeitos no cérebro, será possível reverter a anedonia e ajudar as pessoas com depressão que não respondem ao tratamento com antidepressivos.

Sem conexão

Dosando-se a quantidade da proteína C reativa (PCR) no sangue, pode-se ter uma medida da intensidade de inflamação. A PCR é produzida no fígado e aparece quando temos um processo inflamatório. Nesse estudo, envolvendo 48 pacientes com depressão, naqueles com níveis altos de PCR, observou-se falta de conectividade entre o córtex pré-frontal ventromedial e o estriado ventral.

Em contraste, pacientes com baixo PCR tinham uma conexão normal. Os pesquisadores estão interessados nessas regiões do cérebro por causa de sua reconhecida importância para a resposta de satisfação, e essa falta de conexão pode explicar a anedonia sentida pelos pacientes. Essa pesquisa foi publicada na revista Molecular Psychiatry.

Refratários

Altos níveis de PCR também foram encontrados em pacientes com anedonia: uma inabilidade em obter satisfação das atividades cotidianas, tais como comer ou passar tempo com a família e amigos. A baixa conectividade entre uma outra região do estriado e o córtex prefrontal ventromedial também foi ligada à redução da motricidade, medida pela velocidade de tamborilar com os dedos.

Durante a parte do estudo que realizou o exame de imagem do cérebro, os pacientes não podiam tomar nem antidepressivos, nem anti-inflamatórios, nem qualquer outro medicamento, por pelo menos 4 semanas, e os níveis de CRP foram medidos em repetidas visitas para se ter certeza que seus níveis eram estáveis.

Os níveis altos de CRP também foram comparados com o IMC (índice de massa corporal), mas a correlação do CRP com a anedonia se manteve forte, mesmo após se corrigir pelo IMC ou ainda com outras variáveis como a idade.

Um estudo prévio com pessoas com depressão refratária encontrou que aqueles com altos níveis de CRP, mas não outros participantes do estudo, melhoraram em resposta ao uso do anti-inflamatório biológico infliximab.

O próximo passo, segundo os autores, é testar se a L-DOPA, um medicamento que tem como alvo aumentar a dopamina no cérebro, pode também aumentar a conectividade entre as regiões cerebrais relacionadas com a satisfação, em pacientes com depressão ligada à inflamação.

Os investigadores tem a esperança de poder conseguir novas terapias para tratar a anedonia associada a esses quadros depressivos.

Carlos Rogério Tonussi

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