Planárias poderão substituir mamíferos para alguns testes de toxicologia

16/07/2015 15:15

Guerra química

Diariamente somos expostos a milhares de novos compostos potencialmente tóxicos, desde pesticidas a cosméticos e aditivos alimentares. Testar a segurança desses novos produtos químicos tornou-se um problema crescente, devido ao grande uso de animais como ratos de laboratório e mesmo cães.

Por isso, estão sendo feitos muitos esforços para substituí-los por alternativas que empregam desde cultura de células até animais mais simples, como o pequeno peixe-zebra (paulistinha), permitindo aos pesquisadores rastrear milhares de potenciais toxinas mais rapidamente e a um custo reduzido.

Vermes chatos, ou platelmintos, de água doce, podem se tornar as vedetes nessa guerra. Cientistas da Universidade da Califórnia, San Diego, EUA, descobriram que as planárias podem ser muito úteis para se prever a resposta do sistema nervoso humano aos produtos químicos tóxicos. Os pesquisadores publicaram suas descobertas na edição atual da revista Toxicological Sciences.

Solução chata e barata

Os pesquisadores mediram os efeitos de nove agentes neurotóxicos conhecidos, entre solventes, pesticidas e detergentes, sobre a saúde, reação a estímulos, regeneração e estrutura do cérebro das planárias (Dugesia japonica). A conclusão foi que as planárias são tão boas para testar produtos químicos como os testes tradicionais.

Além disso, são pequenas, baratas e se desenvolvem rapidamente. E tem ainda uma grande vantagem em relação a outros animais usados em laboratório. Pode-se estudar animais adultos e em desenvolvimento, geneticamente idênticos! Isso nos permite comparar o efeito de possíveis agentes tóxicos no cérebro dos animaizinhos, sem as complicações das diferenças genéticas entre os indivíduos.

Produzir ratos, ou mesmo peixinhos-zebra, geneticamente iguais, é muito caro. Mas basta dividir uma planária ao meio com uma lâmina e teremos duas planárias idênticas em poucos dias. Se dividirmos essas duas em quatro, teremos quatro, e assim por diante. Todas clones genéticos!

Alívio para os bichos maiores?

O cérebro das planárias, apesar de simples, tem os mesmos tipos de neurônios e química que os mamíferos, inclusive humanos. De fato, o cérebro da planária é considerado ser mais semelhante ao cérebro dos vertebrados do que de outros cérebros de invertebrados em termos de estrutura e função.

Porém, os testes em mamíferos ainda serão necessários em estudos mais complexos. Nossa expectativa é que utilizando uma bateria de testes com planárias, vermes nematoides e pequenos peixes, poderemos descartar muitas substâncias tóxicas antes que precisemos testá-las em roedores e cães, reduzindo, assim, o seu uso ao mínimo estritamente necessário.

Carlos Rogério Tonussi

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