Departamento de Farmacologia

Analgésicos anti-inflamatórios comuns vendidos livremente na farmácia também podem ser efetivos no tratamento de pessoas sofrendo de depressão. Isso foi mostrado por um grande estudo de meta-análise publicado por um grupo de pesquisa da universidade dinamarquesa Aarhus, no Jornal da Associação Médica Americana (Jama). Meta-análise é o nome que se dá para estudos de revisão estatística realizados com dados já publicados por outros autores.
No presente estudo foram revistos os dados publicados em 14 estudos internacionais envolvendo 6.242 pacientes que sofriam de depressão ou tinham sintomas individuais de depressão. Depressão é um problema sério no mundo todo, mas especialmente na Dinamarca cerca de 15% da população pode esperar sofrer de depressão em algum momento de suas vidas.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a depressão é uma das cinco principais causas de perda da qualidade de vida e, também, de anos de vida. Assim, é uma condição muito séria, uma que pesquisadores de todo o mundo estão constantemente tentando achar tratamentos mais eficazes.

Não é só coisa da cabeça

Nos anos recentes várias pesquisas têm mostrado que frequentemente a depressão ocorre junto com outras doenças físicas, tais como condições dolorosas ou infecções no paciente. Esta meta-análise confirmou essa correlação e também demonstrou que os medicamentos anti-inflamatórios em combinação com os antidepressivos podem melhorar o tratamento da depressão.

Esse achado amplia as possibilidades de se oferecer a cada paciente um tratamento mais personalizado. O aspecto novo e crucial desta meta-análise é que pela primeira vez os pesquisadores podem estar bem certos do efeito das drogas anti-inflamatórias sobre a depressão. Porém, os pesquisadores ainda não tem clareza de quais pacientes serão beneficiados com esses medicamentos e em que doses.

Marco orientador

O maior problema com a depressão é que não se conhecem as causas que desencadeiam a doença em cada paciente. Alguns estudos sugerem que a escolha da medicação antidepressiva pode ser guiada por uma amostra de sangue que mede se existe uma condição inflamatória no corpo.

Outros estudos mostram que as mesmas amostras de sangue podem ser utilizadas como um guia para que um doente com depressão seja tratado com drogas anti-inflamatórias, pois elas funcionam melhor quando existe inflamação junto com a depressão.

Estas conclusões devem, no entanto, ser verificados antes de serem implementadas na prática clínica, ou seja, esta análise deve ser vista como um marco pelo qual futuros projetos de pesquisa e tratamento precisam se orientar.

Carlos Rogério Tonussi