Substância derivada do brócolis pode tratar o autismo

16/10/2014 08:11

Brotos de brócolis, alimento que contém substância que ameniza sintomas do autismo Foto: Johns Hopkins Medicine / DivulgaçãoPerdidos em si

O grupo dos transtornos autistas afeta de 1% a 2% da população do mundo. Seus sintomas comportamentais, como a baixa interação social e comunicação verbal, são bem conhecidas e foram descritas pela primeira vez há 70 anos pelo dr. Leo Kanner, fundador da psiquiatria pediátrica da Universidade Johns Hopkins.
Embora suas causas permaneçam desconhecidas, sabe-se que as células cerebrais das pessoas com autismo geralmente sofrem altos níveis de estresse oxidativo, devido ao acúmulo dos famosos radicais livres, subprodutos indesejados da respiração celular, que podem causar inflamação, danos ao DNA, câncer e outras doenças crônicas.

Em um artigo publicado no Jornal Proceedings of the National Academy of Sciences nesta semana, os pesquisadores afirmam uma dose diária de sulforafano produziu melhora substancial na interação e comunicação verbal, bem como diminuição nos comportamentos repetitivos e ritualísticos de pacientes autistas.

Olhando nos olhos

Vinte e seis pacientes foram selecionados aleatoriamente para receber, com base no seu peso, 9-27mg de sulforafano por dia, e 14 receberam placebos. Avaliações comportamentais foram feitas em quatro, 10 e 18 semanas, durante o tratamento.

A avaliação final foi concluída para a maioria dos participantes, quatro semanas após o fim do tratamento. A maioria dos que responderam ao sulforafano mostraram melhorias já na primeira avaliação em quatro semanas e continuaram a melhorar durante o restante do tratamento. Após 18 semanas, a média de comportamentos aberrantes e o grau de isolamento social daqueles que receberam sulforafano tinham diminuído em 34 e 17%, respectivamente, diminuindo também as crises de irritabilidade, letargia, movimentos repetitivos e hiperatividade.

Além disso, houve melhora na conscientização, comunicação, motivação e maneirismos. No geral, em torno de 50% dos pacientes tratados com sulforafano experimentaram melhorias visíveis, como o contato visual e até cumprimentar com as mãos. No entanto, os comportamentos autistas retornaram ao habitual com o fim do tratamento, mostrando que seus efeitos são temporários.

Brócolis não é remédio

O sulforafano tem alguma capacidade de reforçar as defesas naturais do corpo contra os radicais livres, inflamação e danos no DNA. Mas antes que alguém planeje correr à banca do verdureiro mais próxima, os pesquisadores advertem que os níveis de sulforafano presentes em diferentes variedades de brócolis são altamente variáveis.

Além disso, a capacidade dos indivíduos de converter esses precursores para sulforafano ativo também varia muito. Seria muito difícil de alcançar os níveis de sulforafano utilizado neste estudo pela ingestão de grandes quantidades de brócolis ou outros vegetais crucíferos.

 

Carlos Rogério Tonussi

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