Analgésicos podem provocar dor de cabeça, em vez de curá-la

25/09/2012 14:51

De acordo com as orientações da organização, muitas pessoas encontram-se em estado de dependência, após cederem a um “ciclo vicioso” de alívio da dor, o que acaba causando ainda mais dores de cabeça.

“Pessoas que ingerem medicamentos regularmente, como aspirina, paracetamol e triptan, podem estar causando mais dor do que alívio a si mesmos”, diz documento elaborado pelo painel. “Enquanto tratamentos de farmácia são eficientes para aliviar dores de cabeça ocasionais, acredita-se que 1 em cada 50 pessoas sofra dores causadas pelo excesso de medicação, e a incidência é cinco vezes maior entre as mulheres.”

Não há dados específicos na Grã-Bretanha sobre a incidência do problema, mas estudos em outros países sugerem que entre 1% e 2% da população é afetada por dores de cabeça. A Organização Mundial da Saúde (OMS) cita estatísticas que apontam que, em alguns grupos pesquisados, a incidência chega a 5% da população.

Para Martin Underwood, da Escola de Medicina de Warwick, que liderou a pesquisa do Nice, “(a ingestão de analgésicos) pode acabar em um ciclo vicioso no qual a dor de cabeça fica cada vez pior, então você toma mais analgésicos, sua dor de cabeça fica pior, e pior e pior. E é uma coisa tão fácil de prevenir”.

As novas orientações para os médicos na Inglaterra e no País de Gales são: alertar os pacientes para que suspendam imediatamente o uso dos analgésicos. Entretanto, isso pode levar a aproximadamente um mês de agonia, até que os sintomas eventualmente melhorem.

Os especialistas disseram ainda que devem ser considerados outras opções de tratamentos profiláticos e preventivos – em alguns casos, por exemplo, recomenda-se a acupuntura.

Efeito

A forma como os analgésicos atuam no cérebro não é totalmente compreendida pelos médicos.

Acredita-se que a maior parte das pessoas afetadas tenha começado a ter dores de cabeça comuns diárias ou enxaquecas; o problema foi se agravando à medida que essas pessoas passaram a recorrer à automedicação frequente.

Manjit Matharu, neurologista consultor do Hospital Nacional de Neurologia e Neurocirurgia, disse que, em geral, a automedicação se torna um problema sério quando os pacientes começam a ingerir analgésicos por dez a 15 dias todo mês.

“Isso é um grande problema para a população. O número de pessoas com excesso de uso de remédios para dor de cabeça já é de um a cada 50. Isso representa aproximadamente 1 milhão de pessoas que têm dor de cabeça diariamente ou quase diariamente devido ao uso de analgésicos”, diz Matharu.

As pessoas com um histórico familiar de dores de cabeça tensionais ou enxaqueca também podem ter uma vulnerabilidade genética ao excesso de medicação para dor de cabeça. Elas podem ser mais suscetíveis aos anlagésicos, mesmo que estes não sejam específicos para dor de cabeça.

‘Diagnóstico mais preciso’

O Nice sugere que os médicos recomendem acupuntura para pacientes suscetíveis a enxaquecas e dores de cabeça tensionais.

“Podemos esperar que isso leve mais pessoas a procurarem acupuntura. Levando em conta que há evidências de que a prática é eficaz para a prevenção de enxaquecas e dores de cabeça tensionais, isso é algo positivo”, diz Martin Underwood.

A chefe da Fundação Enxaqueca da Grã-Bretanha, Wendy Thomas, disse que as orientações deverão ajudar o trabalho dos médicos.

“As medidas vão colaborar para um diagnóstico mais preciso, recomendações apropriadas e informações baseadas em evidências para aqueles com dores de cabeça perturbadoras. Também vão conscientizar sobre os excessos de automedicação, que podem ser um problema sério para aqueles com dores de cabeça graves.”

Fayyaz Ahmed, director da Associação Britânica para o Estudo de Enxaqueca, também vê as orientações com bons olhos.

“A dor de cabeça é a doença mais frequente, e uma em cada sete pessoas na Grã-Bretanha sofre de enxaqueca. O problema coloca um peso enorme sobre os recursos do sistema de saúde e a economia de forma geral”, avalia.

No Brasil, estudos de 2009 apontam a incidência de enxaqueca em cerca de 15% da população.

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Cápsulas microscópicas com medicamento pode resolver o problema dos efeitos colaterais

23/08/2012 11:41

Quimioterapia

A toxicidade de muito medicamentos ocorre porque as drogas que são aplicadas por via oral, endovenosa ou intramuscular, por exemplo, vão se distribuir por todo o organismo, afetando tanto os tecidos doentes, como os sadios. Um exemplo importante é o dos agentes contra o câncer. Esses fármacos são muito tóxicos porque eles são feitos para impedir as células de se multiplicarem. Isso afeta muito mais as células que estão se dividindo rápido, como no câncer, mas também afeta as células normais do organismo. Por isso é que os cabelos caem, podem aparecer feridas na boca e problemas no sangue.

Cápsulas microscópicas

Mas se ao invés de colocar a droga no organismo de qualquer jeito, a gente pudesse colocá-la dentro de um envelope com o endereço certo para entrega no lugar da doença apenas, os efeitos colaterais iriam ser muito menores. É pensando nisso que os cientistas estão usando nanocápsulas para envelopar certos medicamentos. Nanocápsulas podem ser menores do que bactérias e, além de colocar os medicamentos lá dentro, podemos pendurar sinalizadores do lado de fora. Esses sinalizadores vão ser reconhecidos apenas pelas células alvo e desprezado pelas outras. Assim, a droga que não chegar no lugar da doença, vai ser destruída pelo organismo e jogada fora.

Chá verde

Usando esta ideia, pesquisadores na Escócia, encapsularam uma substância do chá verde em partículas marcadas com transferrina (uma proteína normal do sangue). Muitos tipos de canceres expressam receptores para transferrina e estas nanocápsulas reduziram drasticamente dois tipos muito agressivos de câncer em animais de laboratório. Mas não causaram nenhum efeito tóxico. A pesquisa foi publicada na revista Nanomedicine, em agosto de 2012.

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Armadilha para o HIV

29/11/2011 15:41

Medicamento em desenvolvimento na UFRJ promete revolucionar tratamento da Aids.

Uma planta usada na medicina tradicional contra o câncer é a nova esperança de uma terapia mais eficaz contra a Aids. Em desenvolvimento por um grupo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Laboratório Kyolab, de Campinas, uma droga se mostrou promissora em testes in vitro e deve começar a ser testada em animais já no ano que vem. Se os resultados se mantiverem iguais aos já obtidos, dizem os especialistas, será uma grande revolução no tratamento da doença.

Especializado em fitoquímica de medicamentos, o laboratório de Campinas conseguiu isolar numa planta natural do Piauí uma molécula considerada superativa. A linha de pesquisa incluía originalmente testar sua atividade contra alguns tipos de câncer (para os quais já se encontra em fase II de testes), uma vez que era com esse fim que a planta era usada na medicina tradicional. Resolveu-se também testá-la contra o HIV.
“Começamos a estudar suas propriedades contra o HIV e descobrimos coisas interessantíssimas”, afirmou o chefe do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia da UFRJ, Amilcar Tanuri.

Atualmente, o tratamento padrão contra Aids é feito com o coquetel de drogas. Essa combinação de medicamentos mantém as pessoas saudáveis porque impede a replicação do vírus no sangue. Entretanto, se o tratamento for suspenso, em menos de uma semana o vírus volta a se multiplicar.

Isso acontece porque, embora as drogas bloqueiem a replicação no sangue, o vírus consegue se “esconder” no interior de algumas células, onde se replica muito lentamente, ficando num estado de latência. Mas, quando a medicação no entorno desaparece, ele volta a se multiplicar normalmente, fazendo com que a doença retorne.
“A molécula isolada no laboratório de Campinas consegue ativar esse HIV que está latente. Ela quebra a latência do vírus, que começa a se multiplicar e sai das células (onde estava “escondido”). Quando isso acontece, o coquetel consegue eliminá-lo”, explica Tanuri.

Essa abordagem no desenvolvimento de drogas é inédita. Nos Estados Unidos vários estudos estariam tentando, ainda sem sucesso, encontrar maneiras de tirar o HIV da latência.
“Nenhum medicamento disponível atualmente alcança dentro das células de latência”, explica o diretor do Kyolab, Luiz Pianovsky. A abordagem é inédita, superinovadora e pode inclusive vir a ser a cura da Aids, dependendo ainda de alguns fatores.

De acordo com os cientistas envolvidos no projeto, mais de 2 milhões de moléculas já teriam sido testadas em laboratórios internacionais sem nunca se conseguir achar uma que fosse ativa contra o vírus da Aids.

“Trata-se de um grande esforço internacional, e tivemos a sorte de ter uma planta com uma molécula bioativa”, comemora Amilcar Tanuri, acrescentando que o estudo brasileiro está sendo submetido para publicação no periódico internacional “Aids”. “É uma droga-chave para uma tentativa futura de curar o paciente.”

Mesmo que não se conseguisse a cura total, explicam os cientistas, a droga poderia ser crucial para suprimir a circulação do vírus no organismo por muito mais tempo do que os atuais remédios. “Não há nada no mundo que atue dessa maneira. Há alguns produtos para outras funções, mas com potência muito menor do que essa”, ressalta Pianovsky.

Os estudos ainda estão em fase inicial e são necessárias ainda várias etapas de testagem, entre elas a toxicologia. A planta original, de onde a molécula foi extraída, é extremamente tóxica. “Os resultados obtidos in vitro, no entanto, já demonstram que a toxicidade não é tão alta”, disse Pianovsky.

O próximo passo dos cientistas é testar o medicamento em macacos rhesus antes de passar para testes em seres humanos. Ainda há um longo caminho a percorrer e não há previsão para a finalização da droga. Mas os especialistas afirmam que, se tudo der certo, seria um dos maiores avanços em muitos anos.

Fonte: (O Globo – 18/11)

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