Gravidade da epidemia de Zika pode ser maior do que se imagina

12/09/2016 14:57

Foto: Salmo Duarte / Agencia RBS

Uma pesquisa realizada por pesquisadores da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, SP (Famerp) e apoiada pela Fapesp sugere que a epidemia causada pelo vírus zika no Brasil pode ser muito maior do que dizem as estatísticas oficiais, pois parte dos casos é confundida com dengue. Foram analisadas, com técnicas mais precisas, amostras sanguíneas de 800 pacientes que haviam recebido diagnóstico de dengue, atendidos entre janeiro e agosto de 2016. Para surpresa geral, a infecção pelo vírus da dengue só foi confirmado em 400 amostras. Porém, em mais de 100 dos casos analisados encontraram o vírus Zika e, em uma das amostras, foi identificado até mesmo o vírus causador da febre chikungunya!Nas outras quase 300 amostras restantes não foi encontrado nenhum desses três vírus transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti. Sugerindo que nesses pacientes, casos de gripe ou de outras viroses, foram confundidos com a dengue. Essa pesquisa foi publicada em agosto no Journal of Clinical Virology 

Dados subestimados
Esses resultados indicam que, na prática, os sintomas se confundem. E até mesmo os testes sorológicos atualmente usados na rotina dos laboratórios e serviços de emergência, não garantem precisão do diagnóstico.É verdade que a Organização Mundial de Saúde (OMS) orienta que quando não se tem certeza do diagnóstico, todos os casos devem ser tratados como se fossem dengue, pois dentre as doenças transmitidas pelo Aedes ela é a que oferece maior risco de morte.Porém, esses erros podem levar a outros problemas. Para uma pessoa com Zika, desde que não esteja grávida, você recomenda apenas repouso e hidratação em casa. Já um paciente com dengue precisa fazer exames mais complexos, como um acompanhamento do nível das plaquetas, pois há risco de hemorragia. Isso gera custos desnecessários, se o paciente não estiver mesmo com dengue.

Muito além da microcefalia
Um outro estudo recente realizado por pesquisadores brasileiros do Instituto D¿Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Instituto de Pesquisa Professor Amorim Neto (IPESQ), da Paraíba, em parceria com a Universidade de Tel Aviv em Israel e Children¿s Hospital de Boston nos Estados Unidos, indica que a microcefalia é apenas uma das muitas alterações cerebrais que podem ocorrer em recém-nascidos, no caso de infecção gestacional pelo vírus Zika.

Diferente do que ocorre em outros tipos de infecções como a toxoplasmose (transmitida por gatos), rubéola, citomegalovírus e herpes, os cérebros dos fetos e bebês infectados pelo vírus Zika apresentaram malformações corticais muito mais graves, com anormalidades no corpo caloso, um feixe de fibras nervosas que permite a comunicação entre os dois lados do cérebro, e do tamanho dos ventrículos cerebrais. Junte-se a isso, o fato dos neurônios não se moverem para sua correta posição no cérebro, durante o desenvolvimento fetal.A pesquisa avaliou gestantes, fetos e recém-nascidos infectados pelo vírus zika, através de ressonância magnética, tomografia computadorizada e ultrassom.

Carlos Rogério Tonussi

Tags: DengueInfecçãovírusZika