Uso de fármacos anticolinérgicos não aumenta o risco de demência em pacientes com Doença de Parkinson

07/01/2016 09:59

Evidências recentes mostram um risco maior de demência, em particular do tipo Alzheimer, em indivíduos que utilizam medicamentos anticolinérgicos regularmente. Estas drogas são amplamente utilizadas por adultos mais velhos para tratar a incontinência urinária, humor e até a dor, e muitos deles estão disponíveis sem receita médica.

Uma vez que esses medicamentos também são utilizados para tratar os sintomas motores e sintomas não motores em pacientes com Doença de Parkinson (DP), há uma preocupação natural de que esses pacientes sofram maior risco de desenvolver demência. Felizmente, porém, um novo estudo publicado no Journal of Parkinson’s Disease determinou que o desempenho cognitivo de pacientes com Parkinson tomando medicamentos anticolinérgicos, não diferem daqueles que não tomam.

Carga pesada

A carga medicamentosa são os efeitos causados pelo uso continuado de um fármaco. Os pesquisadores da Universidade de Newcastle, Reino Unido, explicam que “este é o primeiro estudo a explorar uma associação entre a carga de anticolinérgicos e o comprometimento cognitivo leve (MCI) em pacientes com DP. E é muito oportuno, pois um estudo recente mostrou que existe uma relação entre o uso continuado de anticolinérgicos e o desenvolvimento da demência de Alzheimer na população em geral”.

Por isso, precisamos saber se pacientes com Parkinson que recebem medicamentos com atividade anticolinérgica são mais propensos a desenvolver demência, permitindo assim corrigir mais cedo problemas desse tipo.

Esse estudo avaliou 195 pacientes com DP e 94 pacientes controle (sem DP). Comparando os pacientes com DP que usaram anticolinérgicos (83) com pacientes com DP que não usaram (112), não se observou diferença alguma na capacidade mental, dentro desses 18 meses de estudo.

Disfarçados

Muitos medicamentos podem apresentar efeitos anticolinérgicos secundários, também. Por exemplo, vários antidepressivos e antialérgicos mais antigos apresentam efeito anticolinérgico, embora não sejam usados por causa destes efeitos. Por isso, o histórico médico detalhado dos pacientes com Parkinson, incluindo o uso de medicamentos sem prescrição médica, foi cuidadosamente avaliado.

Cada medicamento que esses pacientes tomaram foi classificado em uma escala de 0 a 3, de acordo com sua atividade anticolinérgica, ou seja, nenhuma (0), leve (1), moderada (2) e forte (3). O uso total durante 18 meses de acompanhamento foi usado para calcular a carga medicamentosa de anticolinérgicos. Aqueles com uma carga de anticolinérgicos maior ou igual a 1 foram então comparados com aqueles com carga total igual a 0, ou seja, pacientes com Parkinson que não tomaram nenhuma medicação com ação anticolinérgica.

A proporção de incapacidade mental leve foi a mesma tanto entre os pacientes com Parkinson que usaram, como os que não usaram anticolinérgicos. Além disso, os efeitos negativos totais destas drogas não foram diferentes entre os pacientes com Parkinson e os controles, sem Parkinson. Assim, a preocupação de que anticolinérgicos poderiam piorar a capacidade mental do portador de Doença de Parkinson é infundada, de acordo com essa pesquisa.

Artigo original no link.

 

Carlos Rogério Tonussi

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