Bolhas minúsculas feitas por células do próprio corpo pode reduzir a artrite

24/12/2015 18:00

Fim da cirurgia?

Um tratamento baseado em microbolhas de lipídeos que pode diminuir a dor da artrite e acabar com a necessidade de cirurgia de quadril ou outras articulações, segundo pesquisa recente de cientistas britânicos.

Os cientistas descobriram que bolhas pequeninas chamadas de microvesículas, que são pequenas bolhas de óleo cheias com fluídos, feitas pelas próprias células do corpo, podem “consertar” as cartilagens de quem sofre de artrite.

Esse tratamento usa pequeníssimas partículas que são normalmente produzidas pelo corpo para proteger e reparar as articulações danificadas.

Isso pode significar melhor tratamento para a artrite – reduzindo a dor e melhorando a locomoção de milhares de pessoas no mundo. Também pode eliminar a necessidade das dolorosas, complicadas e caras cirurgias de prótese de quadril ou joelho.

Micropacotes de entrega

Essas microvesículas empacotam uma proteína anti-inflamatória chamada Anexina A1 que protege da destruição a cartilagem que reveste as articulações por dentro.
Em experimentos com camundongos, uma injeção dessas microvesículas dentro das articulações reduziu os danos causados pela artrite na cartilagem. Por outro lado, a artrite foi muito pior em roedores que fabricam menos dessas vesículas.

O mais impressionante é que essas proteínas transportadas pelas vesículas, podem até mesmo reparar os danos articulares. Coisa que os tratamentos disponíveis para a artrite não são capazes fazer.

Essas microvesículas são feitas pelas células brancas do sangue (os leucócitos), que viajam até as articulações inflamadas na tentativa de limitar a destruição.
Normalmente, essas microvesículas não estão presentes em número suficiente para impedir a doença de seguir seu curso.

Mas se for possível extraí-las do sangue de pacientes, concentrá-las e, então, aplicá-las de volta nas articulações, isso poderá ser um tratamento inovador.

Tratamento personalizado

Essa microvesículas poderiam inclusive ser carregadas com medicamentos personalizados para torná-las ainda mais efetivas.
Em um procedimento simples de ambulatório hospitalar, retira-se o sangue para a filtragem e concentração de microvesiculas, em seguida elas podem ser injetadas de volta em suas articulações.

Os autores do estudo disseram que, dependendo do financiamento, o tratamento poderá estar disponível em apenas cinco anos. E poderá beneficiar vários tipos de artrite, como a reumatoide e a osteoartrite.
Se o desgaste das articulações puder ser diagnosticado mais cedo, seria possível reparar os danos antes dele se tornar grave demais, evitando assim as cirurgias de substituição de quadris e joelhos, por exemplo.

Era uma ideia corrente que as cartilagens fossem impenetráveis para as células e outras pequenas estruturas, resultando em grandes limitações em nossa habilidade de desenvolver medicamentos para a artrite. Porém, esse estudo mostrou que as vesículas liberadas do sangue podem “viajar” para dentro da cartilagem e entregar seu “carregamento” lá, e isso tem uma efeito protetor para a cartilagem afetada pela artrite.

Usar o próprio sistema de transporte do corpo para entregar agentes terapêuticos dentro da cartilagem, guarda em si a promessa de que será possível reduzir os danos articulares mais efetivamente do que nunca antes.
Articulações saudáveis e intactas resultam em menos dor e incapacitação, melhorando a qualidade de vida de milhões de pessoas com artrite no mundo.

Artigo original na revista Science Translational Medicine: link

Carlos Rogério Tonussi

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