Estatinas podem aumentar o risco de pancreatite causada por cálculos biliares
As principais causas da pancreatite aguda são álcool e colelitíase (pedra da vesícula). Entre 10 e 20% dos casos, porém, permanecem desconhecidas. Esses casos “de causa desconhecida”, no entanto, poderiam ser originados por pequenos cálculos biliares que não são encontrados durante exame regular.
Em um grande estudo envolvendo pacientes com pancreatite de causa desconhecida, 39 pacientes foram submetidos à cirurgia de remoção da vesícula biliar, e 46 não. Durante três anos de acompanhamento, a doença voltou em 14 pessoas no grupo não operado e em quatro pessoas no grupo de operados, de modo que a recorrência foi claramente mais provável nos não operados. No total, ocorreram 23 casos de pancreatite nos não operados e apenas oito no grupo da cirurgia.
Pedrinhas ocultas
Em dois de cada três pacientes operados, pequenos cálculos biliares foram encontrados, embora essas “pedrinhas” não tivessem sido observadas em exame de ultrassom abdominal feito antes da cirurgia. Esse achado é importante pois reforça a ideia de que muitos casos de pancreatite sem causa conhecida pode ser mesmo causada por pequenos cálculos não detectados em exames. E, por isso, a recorrência da pancreatite pode em muitos casos ser impedido por cirurgia laparoscópica para remoção da vesícula biliar.
Estatinas é pedra
O estudo também analisou a associação de pancreatite com o uso de medicamentos para baixar o colesterol, as estatinas, uma vez que os cálculos biliares muitas vezes contêm colesterol cristalizado. Estudos em animais mostraram que as estatinas podem dissolver os cálculos biliares. A maioria dos cálculos biliares são encontradas nos idosos, geralmente sem manifestar sintomas.
Os investigadores assumiram que as estatinas podem também reduzir o tamanho de cálculos biliares em seres humanos, permitindo que os cálculos movam-se da vesícula biliar para a junção do ducto biliar comum e do ducto pancreático. Nesse local o cálculo entope o ducto pancreático e acaba causando a pancreatite.
No estudo realizado no Hospital Universitário Kuopio, na Finlândia, a pancreatite idiopática (sem causa conhecida) mostrou ser mais comum em usuários de estatina do que em não-usuários. Por outro lado, nos usuários de estatina os resultados da cirurgia de remoção da vesícula biliar foram tão bons quanto nos não usuários, e a cirurgia foi cerca de 10% mais rápida do que nos não usuários. O estudo envolveu 461 pacientes com pancreatite aguda e 1.140 pacientes com pedra da vesícula, comparando aqueles que eram usuários de estatina e aqueles que não usaram (controles).
O uso de estatina foi associado ao aumento do risco de pancreatite aguda. O risco foi especialmente elevado durante o primeiro ano de uso de estatina. Apesar desses achados, ninguém deve interromper a medicação com estatinas sem consultar seu médico. Os resultados foram publicados originalmente em Pancreas, BMC Gastroenterology, Pharmacoepidemiology and Drug Safety.