Análise do veneno de aranhas revela sete compostos promissores, com potencial para aliviar a dor crônica

02/04/2015 00:03

17330640A dor que não pode ser controlada pode arruinar a vida das pessoas. Uma em cada cinco pessoas no mundo atualmente sofrem de dor crônica, e os analgésicos existentes muitas vezes não conseguem prestar socorro.
Só nos EUA o custo de pacientes com dor crônica é estimado em cerca de 600 bilhões de dólares por ano, o que é mais do que se gasta com o tratamento do câncer, diabetes e derrame juntos! Por isso o estudo da dor é tão importante.

Uma nova pesquisa mostra que sete compostos entre milhares encontrados em venenos de aranhas são capazes de bloquear um passo fundamental para passagem de sinais de dor até o cérebro, de acordo com um artigo publicado este mês no British Journal of Pharmacology.

Fechando a porta certa

As pessoas sentem dor quando os nervos de uma região afetada enviam sinais para o cérebro. Todos os nervos precisam de sódio para conduzir os impulsos elétricos. Sim, aquele sal que colocamos na comida é importante para a comunicação do sistema nervoso!

O sódio precisa entrar e sair dos nervos enquanto percorre toda a extensão dele. Nos diferentes nervos existem combinações de 9 tipos de portões de sódio, Nav1.1 até Nav1.9. Ao longo dos nervos que transmitem a dor existem mais portões do tipo Nav1.7. Por isso, um composto que bloqueie apenas os portões Nav1.7 é de particular interesse para nós, pois seria possível interromper apenas a transmissão da dor, sem afetar outras sensações ou funções motoras do corpo!

Veneno ou remédio?

Parte das pesquisas de novos medicamentos tem se concentrado nas 45 mil espécies de aranhas que existem no mundo. Muitos destes animais tem venenos com a capacidade de bloquear a atividade dos nervos. Até agora não havia um bom método para avaliar essa grande quantidade de venenos em pouco tempo.

Neste trabalho, os cientistas analisaram venenos de 206 espécies de aranhas, revelando que 40% desses venenos continham pelo menos um composto que bloqueava os portões Nav1.7 humanos. Separando os 7 compostos mais promissores, um deles, que também era o mais potente, tem uma estrutura química que sugere que ele resistiria intacto ao longo caminho a percorrer até atingir seus alvos no organismo. O que é essencial para um novo medicamento que se pretende administrar em pessoas. Essas propriedades o tornam particularmente interessante como um possível novo analgésico para a dor crônica.

 

Carlos Rogério Tonussi