Enxaqueca pode estar associada a defeito no isolamento de nervos da face
Um novo estudo mostra que alterações na estrutura e função dos nervos podem contribuir para o desenvolvimento da enxaqueca, informa a edição de novembro da Plastic and Reconstructive Surgery®, o jornal médico oficial da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos (ASPS).
Amostras de nervos de pacientes com enxaqueca mostram anormalidades da bainha de mielina, que serve como “isolamento” em torno das fibras nervosas, de acordo com o estudo realizado por médicos cirurgiões plásticos da Case Western Reserve University, Cleveland. Os resultados ajudam a explicar por que um procedimento de cirurgia plástica pode proporcionar alívio da dor eficaz para pacientes com enxaqueca e fornece pistas úteis para o desenvolvimento de novas técnicas para o seu tratamento.
Curto-circuito
Os pesquisadores realizaram estudos detalhados em pequenas amostras do nervo trigêmeo, um nervo craniano com ramos na face, de 15 pacientes que foram submetidos a tratamento cirúrgico para a enxaqueca. Para comparação foram usadas amostras de nervos de outros 15 pacientes que não sofriam de enxaqueca e que foram submetidos a um procedimento cosmético de elevação da testa.
Os resultados mostraram diferenças importantes na estrutura nervosa entre os pacientes com enxaqueca e os pacientes sem enxaqueca. Essencialmente, a camada protetora que envolve e isola o nervo normal, chamada mielina, está faltando ou está com defeito nos nervos dos pacientes com enxaqueca.
Os danos a essa capa de isolamento pode tornar os nervos mais propensos à irritação pelas estruturas ao redor deles, tais como músculos, vasos sanguíneos, e mesmo outros nervos, causando um tipo de curto-circuito, que pode desencadear os ataques de enxaqueca.
A arrumação das organelas celulares também diferiu entre os grupos. Nervos saudáveis apresentaram células muito bem organizadas com elementos uniformemente distribuídos através do nervo, enquanto os nervos de pacientes com enxaqueca mostrou células com distribuição desorganizada de suas organelas.
Plástica para a dor
Os pesquisadores desenvolveram essa técnica de cirurgia de enxaqueca ao perceberem que alguns pacientes com enxaqueca tiveram seus episódios de dor de cabeça reduzidos após passarem por cirurgias cosméticas na face, que envolviam a remoção de alguns músculos e vasos ao redor de nervos cranianos.
Esse estudo reforça a ideia de que os nervos periféricos podem ser mais um elemento importante no desencadeamento dos ataques de enxaqueca. Estas descobertas também podem levar a outras oportunidades para tratar os pacientes com enxaqueca de forma não invasiva, ou com procedimentos menos invasivos, como reparar a mielina em torno dos nervos com defeito, dando isolamento adicional a eles.
Carlos Rogério Tonussi