Cientistas israelenses desenvolvem maconha medicinal sem ‘barato’

04/06/2012 10:32

Cientistas da Universidade Hebraica de Jerusalém desenvolveram um tipo de maconha medicinal, neutralizando a substância THC, que gera os efeitos cognitivos e psicológicos conhecidos como “barato”.

De acordo com a professora Ruth Gallily, especialista em imunologia da Universidade Hebraica de Jerusalém, a segunda substância mais importante da cannabis – o canabidiol (CBD) – tem propriedades “altamente benéficas e significativas” para doentes que sofrem de diabetes, artrite reumatóide e doença de Crohn.

Gallily, que estuda os efeitos medicinais da cannabis há 15 anos, disse à BBC Brasil que o CBD que se encontra na planta “não gera qualquer fenômeno psicológico ou psiquiátrico e reprime reações inflamatórias, sendo muito útil para o tratamento de doenças autoimunes”.

“Obtivemos resultados fantásticos nas experiências que fizemos in vitro e com ratos, no laboratório da Universidade Hebraica”, afirmou a cientista, que é professora da Faculdade de Medicina.

De acordo com ela, após o tratamento com o CBD, o índice de mortalidade em consequência de diabetes nos animais foi reduzido em 60%, tanto em casos de diabetes tipo 1 como tipo 2.

“Para pacientes idosos que sofrem de artrite reumatoide, o uso da cannabis pode ter efeitos maravilhosos e melhorar muito a qualidade de vida”, disse Gallily.

“Constatamos em nossas experiências que o CBD leva à diminuição significativa e muito rápida do inchaço em consequência da artrite.”

A pesquisadora afirma que remédios à base de CBD seriam muito mais baratos que os medicamentos convencionais no tratamento dessas doenças.

A empresa Tikkun Olam obteve a licença do Ministério da Saúde israelense para desenvolver a maconha medicinal e cultiva diversas variedades da planta em estufas na Galileia, no norte de Israel.

Pacientes

De acordo com Zachi Klein, diretor de pesquisa da Tikkun Olam, mais de 8.000 doentes em Israel já são tratados com cannabis, a qual recebem com receitas médicas autorizadas pelo Ministério da Saúde.

De acordo com Klein, a empresa pretende desenvolver um tipo de maconha com proporções diferentes de THC e canabidiol, para poder ajudar a diversos tipos de pacientes.

Foto: Z. KleinMilhares de pacientes em Israel já recebem receitas médicas para maconha

“Há pacientes para os quais o THC é muito benéfico, pois ajuda a melhorar o estado de espírito e abrir o apetite”, afirmou.

Ele diz ainda que, em casos de doentes de câncer, a cannabis em seu estado natural, com o THC, pode melhorar a qualidade de vida, já que a substância provoca a fome conhecida como “larica”, incentivando os pacientes a se alimentarem.

O psiquiatra Yehuda Baruch acredita que “o CBD tem significados medicinais fortes que devem ser examinados”. Baruch, que é o responsável pela utilização da maconha medicinal no Ministério da Saúde, disse à BBC Brasil que “sem o THC, a cannabis será bem menos atraente para os traficantes de drogas”.

O psiquiatra afirmou que nos próximos meses o Ministério da Saúde dará inicio a um estudo sobre os efeitos do THC e do CBD em pacientes que sofrem dores crônicas.

O experimento será feito com 50 pacientes, que serão divididos em dois grupos. Um grupo receberá cannabis com alto nível de THC e baixo nível de CBD e o segundo receberá mais canabidiol do que THC.

Depois de um mês os grupos serão trocados e, durante a experiência, os pacientes preencherão questionários avaliando as alterações na intensidade da dor.

fonte: BBC Brasil
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Armadilha para o HIV

29/11/2011 15:41

Medicamento em desenvolvimento na UFRJ promete revolucionar tratamento da Aids.

Uma planta usada na medicina tradicional contra o câncer é a nova esperança de uma terapia mais eficaz contra a Aids. Em desenvolvimento por um grupo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Laboratório Kyolab, de Campinas, uma droga se mostrou promissora em testes in vitro e deve começar a ser testada em animais já no ano que vem. Se os resultados se mantiverem iguais aos já obtidos, dizem os especialistas, será uma grande revolução no tratamento da doença.

Especializado em fitoquímica de medicamentos, o laboratório de Campinas conseguiu isolar numa planta natural do Piauí uma molécula considerada superativa. A linha de pesquisa incluía originalmente testar sua atividade contra alguns tipos de câncer (para os quais já se encontra em fase II de testes), uma vez que era com esse fim que a planta era usada na medicina tradicional. Resolveu-se também testá-la contra o HIV.
“Começamos a estudar suas propriedades contra o HIV e descobrimos coisas interessantíssimas”, afirmou o chefe do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia da UFRJ, Amilcar Tanuri.

Atualmente, o tratamento padrão contra Aids é feito com o coquetel de drogas. Essa combinação de medicamentos mantém as pessoas saudáveis porque impede a replicação do vírus no sangue. Entretanto, se o tratamento for suspenso, em menos de uma semana o vírus volta a se multiplicar.

Isso acontece porque, embora as drogas bloqueiem a replicação no sangue, o vírus consegue se “esconder” no interior de algumas células, onde se replica muito lentamente, ficando num estado de latência. Mas, quando a medicação no entorno desaparece, ele volta a se multiplicar normalmente, fazendo com que a doença retorne.
“A molécula isolada no laboratório de Campinas consegue ativar esse HIV que está latente. Ela quebra a latência do vírus, que começa a se multiplicar e sai das células (onde estava “escondido”). Quando isso acontece, o coquetel consegue eliminá-lo”, explica Tanuri.

Essa abordagem no desenvolvimento de drogas é inédita. Nos Estados Unidos vários estudos estariam tentando, ainda sem sucesso, encontrar maneiras de tirar o HIV da latência.
“Nenhum medicamento disponível atualmente alcança dentro das células de latência”, explica o diretor do Kyolab, Luiz Pianovsky. A abordagem é inédita, superinovadora e pode inclusive vir a ser a cura da Aids, dependendo ainda de alguns fatores.

De acordo com os cientistas envolvidos no projeto, mais de 2 milhões de moléculas já teriam sido testadas em laboratórios internacionais sem nunca se conseguir achar uma que fosse ativa contra o vírus da Aids.

“Trata-se de um grande esforço internacional, e tivemos a sorte de ter uma planta com uma molécula bioativa”, comemora Amilcar Tanuri, acrescentando que o estudo brasileiro está sendo submetido para publicação no periódico internacional “Aids”. “É uma droga-chave para uma tentativa futura de curar o paciente.”

Mesmo que não se conseguisse a cura total, explicam os cientistas, a droga poderia ser crucial para suprimir a circulação do vírus no organismo por muito mais tempo do que os atuais remédios. “Não há nada no mundo que atue dessa maneira. Há alguns produtos para outras funções, mas com potência muito menor do que essa”, ressalta Pianovsky.

Os estudos ainda estão em fase inicial e são necessárias ainda várias etapas de testagem, entre elas a toxicologia. A planta original, de onde a molécula foi extraída, é extremamente tóxica. “Os resultados obtidos in vitro, no entanto, já demonstram que a toxicidade não é tão alta”, disse Pianovsky.

O próximo passo dos cientistas é testar o medicamento em macacos rhesus antes de passar para testes em seres humanos. Ainda há um longo caminho a percorrer e não há previsão para a finalização da droga. Mas os especialistas afirmam que, se tudo der certo, seria um dos maiores avanços em muitos anos.

Fonte: (O Globo – 18/11)

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