Tratamento contra Ebola usando anticorpo de sangue de sobrevivente passa por teste

07/04/2016 10:54

Um anticorpo é uma proteína produzida pelo sistema imunológico que reconhece a aparência de um vírus e se liga nele. Essa ligação tem duas consequências importantes. A primeira é que o vírus não funciona mais direito com o anticorpo grudado nele. A segunda é que o vírus fica mais visível para que células do sistema imunológico o encontrem e o destruam.

O anticorpo funciona como um sinalizador, marcando o lugar em que a “polícia” do organismo deve ir! O novo anticorpo foi capaz de proteger macacos contra uma dose letal de Ebola, até 5 dias após serem infectados com o vírus. Essa descoberta, foi publicada na revista Science desta semana. Mas ainda há incertezas sobre o quão efetivo esse tratamento pode ser na prática. Isso porque é relativamente provável que o vírus sofrerá uma mutação, fazendo com que o anticorpo não seja mais capaz de “enxergar” esse vírus.

Macacos cobaias

Os pesquisadores pegaram o sangue de um sobrevivente de um surto de Ebola de 1995 na República do Congo. Desse, eles obtiveram anticorpos que foram capazes de neutralizar o vírus, o que significa que o sistema imunológico desse doador reteve a memória para o vírus mesmo 11 anos depois. Inicialmente testaram em macacos, administrando dois dos anticorpos mais potentes, chamados de mAb100 e mAb114.

Três macacos receberam injeções dos anticorpos, começando no primeiro dia da infecção, e não apresentaram sintomas do Ebola. Um macaco não tratado que recebeu a mesma dose de Ebola, morreu da doença após 10 dias. Depois os pesquisadores testaram o anticorpo mais potente, mAb114, sozinho. Para a surpresa geral, ele protegeu os macacos da mesma maneira que o tratamento com dois anticorpos, mesmo quando dado 5 dias depois do inicio da infecção.

Dois é melhor?

A capacidade desses anticorpos em proteger os macacos, mesmo quando eles são dados após terem começado os sintomas da infecção, é muito importante porque os humanos normalmente só são diagnosticados com a doença depois que os sintomas aparecem. Assim, se o vírus não sofrer mutação, impedindo o anticorpo de agir, a capacidade do coquetel funcionar mesmo após os sintomas começarem, é realmente um grande passo a frente no tratamento dessa doença.

Porém, embora com um coquetel com dois ou mais anticorpos seja muito mais difícil para o vírus Ebola escapar através de mutações, é muito mais complicado produzi-lo. Um único anticorpo muito efetivo é mais fácil de disponibilizar durante uma emergência, como um surto nacional por exemplo, onde necessitarão de grandes quantidades desse soro.

Carlos Rogério Tonussi
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